TODO MÊS TEMOS UM ENCONTRO NOVO

Este tema propõe uma reflexão sobre os processos de constituição psíquica a partir dos conceitos de narcisismo primário (Freud, 1914) e da fase do espelho (Lacan, 1949), articulando-os às experiências de parentalidade e aos efeitos dos atravessamentos raciais. 

Busca-se investigar como o sujeito se constitui na relação com o Outro, especialmente no campo do olhar e da imagem, e como esse processo é marcado pelas inscrições simbólicas produzidas pelas experiências históricas e sociais dos sujeitos negros. 

Considerando que a parentalidade opera como lugar de transmissão de significantes, ou seja, como um campo onde o sujeito é inscrito na linguagem e no desejo do Outro, interessa-nos pensar em que espelho o sujeito negro é lançado desde o início da vida. Como o olhar do Outro, atravessado por estigmas e exclusões, incide sobre a constituição do sujeito? Quais são os efeitos de um espelhamento que, desde cedo, pode ser fragmentado, distorcido ou silenciado através do racismo estrutural?

Entre o espelho e o olhar, inscrevem-se as tensões entre imagem, desejo e reconhecimento. Pensar a parentalidade a partir dessa perspectiva nos leva a perguntar: que lugar simbólico ocupa o sujeito negro no desejo parental e no laço social? E como sustentar a função de espelho quando, muitas vezes, não se teve acesso a uma imagem afirmativa de si?

Esse tema convoca a escuta da diferença e a atenção aos efeitos de uma linguagem que, ao nomear, também marca.

Um convite a esse endereçamento, talvez provocativo para alguns, mas que, justamente por isso, tanto me interessa.